26.2.13

Poesia...

          Madrugada em ação. E eu aqui debruçada na frente do pc lendo (again) 'Lira dos Vinte Anos'.
          Aliás, tô pensando em promover uma boa recompensa pra quem der de cara com meu livro andando por aí e me entregar! Ele simplesmente sumiu do mapa, e eu ando querendo ter essas páginas na mão a todo custo.
          Adoro tecnologia, mas não abro mão de certas coisas 'antigas'. Quando o assunto é livro, bom mesmo é ter ele nas mãos em papel, com cheiro de novo, ou com as marcas e o cheiro que o tempo deixou nele... As marcas deixadas, cada recordação que ele te traz. Aahh, pode me chamar de antiquada que eu não ligo! Só leio por telas se não tenho outra opção mesmo.

          Alguns julgam isso como um tipo de literatuda depressiva, outros acham patético (pasme, eu achei gente que pensa assim). Não sei qual opinião você tem sobre, mas... Dá uma olhada nisso... É fantástico.

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Lembrança de Morrer

Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nenhuma lágrima
Em pálpebra demente.

E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.

Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poento caminheiro,
... Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;

Como o desterro de minh’alma errante,
Onde fogo insensato a consumia:
Só levo uma saudade... é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.

Só levo uma saudade... é dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas...
De ti, ó minha mãe, pobre coitada,
Que por minha tristeza te definhas!

De meu pai... de meus únicos amigos,
Pouco - bem poucos... e que não zombavam
Quando, em noites de febre endoudecido,
Minhas pálidas crenças duvidavam.

Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda,
É pela virgem que sonhei... que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!

Só tu à mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flores...
Se viveu, foi por ti! e de esperança
De na vida gozar de teus amores.

Beijarei a verdade santa e nua,
Verei cristalizar-se o sonho amigo...
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu, eu vou amar contigo!

Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
Foi poeta - sonhou - e amou na vida.

Sombras do vale, noites da montanha
Que minha alma cantou e amava tanto,
Protegei o meu corpo abandonado,
E no silêncio derramai-lhe canto!

Mas quando preludia ave d’aurora
E quando à meia-noite o céu repousa,
Arvoredos do bosque, abri os ramos...
Deixai a lua pratear-me a lousa!

                                 - Alvares de Azevedo -

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Trilha sonora:

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See ya next time...

Bru

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